quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Diario de Itacaré

11-01-2019 - Chegada a Ilhéus e mais duas horas de viagem até a cidade de Itacaré, viagem bonita estrada boa, mata preservada no caminho de Serra Grande e Uruçuca. Conheci a praia das Conchas e vi o por do sol no Xeréu. Andei a orla da cidade até quase o centro, mas, voltei pela Passarela da Vila onde jantei já bastante cansada. À tarde, antes do jantar comi um acarajé no caminho.

12-01–2019 - Resolvi conhecer melhor a Praia das Conchas, pequena caminhada para ver a pesca de rede e o Farol. Comi o acarajé da Bete. Chega de acarajé. Almoço, uma moqueca com banana da terra, meia porção foi demais. O pirão estava gostoso. Muito dendê.

13-01-2019 - Praia do Resende, a mais gostosa de areia branca, o único comércio existente é a presença dos ambulantes, sem restaurante. Preços honestos. Almoço depois um pouco mequetrefe num restaurante na Pituba e banho na Praia das Conchas à tardinha, a paisagem lá é linda. À noite fui conhecer o crepe da Therese que só abre no período entre 17:30 até 22:30. Caro, mas, gostoso, um pouco oleoso para o meu gosto mas era feito de trigo sarraceno.

14-01-2019 - Praia da Ribeira, gostosa, mas restrita aos restaurantes, caros para vir e comer sozinha, a praia muito pequena. Deu pra desenhar mas a chuva me interrompeu e depois abriu o sol de novo. Aperitivo, uma casquinha de siri. O almoço na Ribeira foi bobó de camarão, muito azeite de dendê, bem servida a meia porção, banho no fim da tarde na praia das Conchas e desenho do farol. Descanso depois do banho na rede lendo Hereges de Padura. Jantar no Jiló, restaurante turístico com culinária diferente em frente à orla dos pescadores e da pelada na praia rolando ainda às 21:30. Orla um pouco suja e descuidada. Corre solto o desmatamento da orla das praias pelos hotéis e loteamentos. Muitos empresários de fora da Bahia, de São Paulo, Rio de Janeiro, etc.
Restaurante Jiló meio sofisticado no cardápio, mas, de qualidade. De uma mesa ao lado um pai dizendo para os filhos, “não existe bonito ou feio, melhor ou pior, tudo depende do contexto“. Achei simpático.

15-01-2019 - passeio pela cidade no centro histórico, pequeno com casarões e a igreja preservados. Disse-me o dono da galeria de arte que tudo foi construído pelos jesuítas sem mão de obra escrava. Que o pequeno morro foi feito por eles com três muros de arrimos para proteger a igreja. A vista para o Rio das Contas é bonita, mas, algumas árvores plantadas sem planejamento impedem a visão linda do Rio e do Farol. Perambulei pelo centro entrei na galeria de arte um casarão bonito e descolado. Andei bastante e depois fui tomar um banho de mar na praia das Conchas. Tomei banho e pedi comida no hotel mas pra variar muita comida pra mim. Depois vi um pouco de tv e dormi cedo acordei no meio da noite e voltei a dormir, quase perdi o café da manhã e não li nenhum capitulo do livro. 

16-01-2019 praia do Resende enfrentei o sol e caminhei até aqui. O pessoal da barraca lembrou de mim e me deu toda atenção. Hoje vou passar na agência e perguntar sobre o passeio de Itacarezinho e da Cachoeira de Tijuípe. Tudo muito caro e privatizado. O Brasil das elites e das migalhas para a classe média. Comprei artesanato numa loja e dei de cara com um jovem artista que fazia escritos em madeira e pintava quadrinhos de madeira e azulejo. Fiz ele assinar os que comprei. Mas, não deve ganhar nada por sua arte, talvez um pequeno salário da loja. A melhor do dia, o dono da Natura comprou todas as terras das praias rurais, daqui até Serra Grande. Só se acessa algumas pagando o dia nos resorts e proíbem os jovens que vendem sanduíche na praia. 

17-01-19. Fiquei na praia das Conchas para descansar do sol e de andar tanto para aguentar o passeio das praias amanhã. 
Almoço na barraca da pousada. Fiz três desenhos na praia, dois do farol. Muita gente fica curiosa sobre os desenhos e vem elogiar, quase como pedir um autógrafo para um artista de TV. Interessante esse interesse pela arte do fazer.
Jantar no restaurante novo da praça do cachorros, o serviço complicado, o peixe veio cru, empresários de Minas, vindo de Brasília. Mas, foram gentis e corrigiram o prato. Contratei o passeio na agência. E acho que é melhor pois não é fácil o percurso.

18-01-2019 - Acordei algumas vezes à noite preocupada em descansar para o passeio, mas, acordei no horário combinado e deu tudo certo, café da manhã e a primeira trilha para a praia da Engenhoca. Os guias foram ótimos, (Vítor e Adeilson vulgo Paçoca) dois rapazes de Itacaré simpáticos e brincalhões conhecem tudo da mata. A praia linda e o Rio também, explicaram do investimento do grupo japonês e de um tal de Luciano mineiro dono da fazenda da mata. Empreendimento parado e se deteriorando, muito concreto, obra embargada. Paraíso particular para ricos.
Aula sobre o dendê fresco e o caroço velho. Aproveita-se tudo até para limpar pista de aviação. Os guias aqui na praia do Havaizinho estão jogando uma pelada. Tomo cuidado na caminhada e já os alertei sobre minha idade e foram muito gentis. Tem criança no grupo, gente do Rio, Goiás, Espírito Santo, Bahia e só eu de São Paulo. Eles brincam dizendo Axé e a resposta tem que ser Bahia, brincam o tempo todo. E ensinam sobre a mata e todos os tipos de palmito, juçara, pupunha, pati, açaí e dendê. Uma música chata de um grupo de quatro rapazes turistas incomodou na praia do Havaizinho. Trilha novamente pelas pedras e depois praia da Gamboa , linda mas não se recomenda o banho por causa das pedras. Depois subimos a trilha de Itacarézinho a subida mais difícil e mais íngreme do morro, um garoto forte de 16 anos com a mãe carregou minha mochila, mas a descida também foi difícil no primeiro trecho,  mas, a vista deslumbrante e a chegada na praia suave. Essa é a maior praia de mar aberto que vai até Ilhéus, um azul lindo e temperatura muito agradável só precisa tomar cuidado com as ondas. A areia fervendo pois chegamos lá por volta de 13 horas. Ficamos por ali durante uma hora e depois a van nos pegou no estacionamento e levou para a cachoeira de Tijuípe, linda, muita gente mas o restaurante sofrível, e a cachoeira impossível pra mim de entrar sozinha, pois escorrega por causa do musgo verde. Voltamos para as pousadas muito cansados, fiquei aqui até a hora do jantar e resolvi ir e voltar de táxi para a Pituba. Comi um quindim pequeno depois do jantar e fui descansar, tentei ver mais de um episódio da série, mas, dormi já 23:30.

19-01-2019 - Acordei cedo no sábado com o propósito de ficar por aqui nas conchas e desenhar na praia, fiz alguns desenhos, li, tomei sol e conversei com a colega de excursão, capixaba que está sozinha também e veio me visitar na praia, moça simpática que gostava muito de tirar Self e um pouco exigente também.
Acompanhei o fim da tarde na praia, o ritual de fechamento das barracas e a luz no céu mudando com o por do sol lá na ponta do Xeréu. Tons de Rosa e azul no céu lembravam "as meninas" do Velásquez. E o farol se destacando com um branco nacarado combinando com o cinza e branco das nuvens tocadas pelo sol. E a lua foi surgindo e, claro, não consegui fotografá-la como eu a via. Tentei desenhar de memória depois as cores do céu, do farol e do mar no escuro da noite. O farol virou um corpo escuro quase preto na sombra, a lua espalhando o branco riscado no mar, mas, o surpreendente eram as nuvens que pareciam um corpo denso flutuante sobre o mar iluminadas. Lindo, vim fazer o desenho das cores que vi e deitar feliz. Fiquei na rede por uma hora e dormi, mas, acordei enjoada. Entrei, vim deitar e comecei a passar mal com o gosto da moqueca que tinha sobrado do almoço. Vomitei varias vezes, dormia melhor e acordava enjoada. Penso que o que me fez mal foi uma cocada com cacau que comi na praia.

20-01-2019- Foi assim até 7:40 da manhã dormindo picado. Aí comuniquei a pousada via WhatsApp e eles foram super atenciosos . Fiquei deitada tomando água de coco. Melhorei no fim da tarde desci um pouco do quarto, um pouco fraca pelo jejum e tomei mais um lanche e me recolhi de novo, vi alguns episódios de uma série e adormeci cedo.

21-01-2019 - Dormi bem e de manhã, quando vi o tempo, resolvi fazer o passeio de barco para a cachoeira do Calandro. O barco vai pelo mar e passei praticamente ao lado do farol e pude fotografá-lo de perto, depois fomos em direção ao Rio de Contas e o encontro das águas balança um pouco a lancha, mas logo subimos o Rio e o barco faz mais esforço pois vai contra a correnteza. Vi a cidade, a igreja a partir do Rio, linda a cidadezinha no meio da vegetação exuberante. Logo vimos uma ilha que divide o Rio e vimos os criadouros de ostras, logo adiante chegamos ao Rio do Engenho afluente do Rio das Contas e aí logo entramos no túnel do mangue. Incrível como o mangue é alto, e aí o barqueiro foi conduzindo o barco por 1,5 km com o remo pois a maré estava baixa e a água estava com pouca profundidade para ligar o motor. Aí o espetáculo da natureza foi apresentando a vida no mangue. Milhares de caranguejos das mais variadas espécies, tamanhos e cores. Consegui filmar alguns e fotografar mas eles se movem o tempo todo e se entocam. Vivem de comer vegetação nativa. Lindo são as raízes das árvores que se ramificam formando uma trama por onde os caranguejos se escondem e circulam. Alguns caranguejos são pegos para vender para os restaurantes. Os coqueiros se misturam ao mangue e vimos um coqueiro de gêmeos cujos dois produzem coco, eu diria que eles eram xipofagos. Vimos um pássaro cuidando de seu ninho que só se alimenta de peixes. Os caranguejos são de variadas cores, azul, vermelho preto-e-branco. Engraçado que não senti insetos me picarem em nenhum momento, apesar do meio da mata. Subimos esse pequeno Rio até as pedras da cachoeira onde tem uma pequena venda. Fazem chocolate caseiro com cacau e açúcar. Achei um pouco doce demais e resolvi não comprar. A entrada na cachoeira custa quinze reais e vai se subindo pelas pedras com uma corda acompanhando todo o percurso. O barqueiro nos orientou e fez uma demonstração no segundo poço de como poderíamos entrar na água, eu e o casal de Vitória da Conquista que fez o passeio comigo. Dessa vez fui mais esperta e entrei na água com alpargatas o que me deu mais segurança, da próxima vez vou levar o meu sapato de hidroginástica. Pude chegar até a queda d’água e foi uma delícia apesar de um pouco de medo. Mas o barqueiro me explicou e deu segurança. Depois eu e o casal ficamos só e conseguimos voltar até o barco na beira do Rio . Voltamos com a maré alta cobrindo boa parte das raízes das árvores e já com o motor ligado saímos e descemos o Rio até novamente o Rio de Contas até chegar no mar, agora descendo a favor da correnteza até o encontro das águas do mar margeando a praia da Coroinha. O barco bate mais forte com as ondas mesmo com o mar calmo e chegamos rápido à beira da praia das Conchas. Um passeio top esse pelo mangue. Puro aprendizado. Minha coragem seguiu a intuição da confiança nos nativos. Almocei na volta na pousada e conclui um desenho com água. Conheci a capa do livro do Pablo Neruda com o farol de Itacaré e conversei um pouco com os donos, a pousada Piratas foi a primeira de Itacaré há mais de 20 anos. À noitinha a surpresa da lua nascendo no mar
Fui corajosa para os meus padrões e fiz bem em vir pra Itacaré por esses passeios e a paisagem linda da praia das Conchas e o acolhimento da pousada. 
O povo baiano é sim acolhedor. 
Não consigo tirar da minha cabeça a música “Bahia minha preta” que a Gal Costa canta e a música do Gil “toda menina baiana tem um jeito que Deus dá”

22-01-2019 - primeiro ato hoje foi me despedir da paisagem, da praia e do farol que estavam lindos sob o sol e o frescor da manhã por volta de 7:45 hora local, olhei com persistência para levar esse bom humor e essa paz comigo pra São Paulo, minha terra querida. 
O tempo todo em Itacaré pensava que o povo da terra devia conseguir gerir e ser dono dos negócios do turismo, e cada um deve poder viver, se quiser, onde nasceu com dignidade. 
O Brasil há de se tornar uma terra assim, estávamos indo por esse caminho e na Bahia se sente essa consciência mas os percalços de agora serão vencidos pelo povo.

















quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Museu Nacional

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