quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A número 100 tem que ser especial eu pensei

Postagem de número 100.

A número 100 tem que ser especial eu pensei, além disso o blog já tem mais de um ano. Comecei por uma necessidade de expressar sentimentos, pensamentos e algo sobre as coisas às quais me dedico e ao registro de memória de coisas importantes na minha vida relacionadas à minha cidade, ao meu "lugar".

E hoje me deparei com uma reportagem no jornal sobre o futuro destino do lugar onde nasci. O Hospital Matarazzo. Dito também oficialmente Hospital Humberto I (primeiro rei da Itália após a sua unificação), mas, para mim sempre o Hospital Matarazzo, construído em 1904, onde nasci eu e meu irmão mais velho, e o mais importante, onde meus pais se conheceram. Meu pai trabalhava lá e minha mãe visitava seu pai doente.


Meus pais no dia de seu casamento

Dos sete filhos, as meninas, mais velhas do que eu, nasceram em Piracicaba na Santa Casa quando meus pais se mudaram para lá. Os dois mais novos nasceram em casa com parteiras, talvez pela experiência adquirida por minha mãe após cinco filhos. Um deles nasceu no bairro da Mooca e o outro no Jabaquara em momentos diferentes da vida dos meus pais.

Engraçado pensar no momento de nascimento da vida da gente. Lá em casa a estória sempre contada é que nasci num domingo às duas da tarde durante um gol do Corinthians num jogo que o meu pai ouvia no rádio no necrotério junto com funcionários do hospital, enquanto minha mãe estava na sala de parto. 

Sempre gostei dessa estória por ser num domingo e durante um jogo do "coringão". Nunca conferi se nasci num domingo e que campeonato era aquele, mas, acho que ninguém ia inventar uma estória de nascimento. Hoje tive curiosidade de conferir. 

Provavelmente a Avenida Paulista era parecida com os postais mais antigos e não sei direito explicar se fiquei feliz ou triste com o futuro do complexo. Me lembro dos jardins do Hospital quando operei a garganta aos quatro anos de idade. Era o nosso hospital de referência pelas relações de confiança de meu pai.



Meu pai (centro) e seus amigos médicos nos jardins do Hospital

Enfim a notícia é que o o Hospital vai virar um conjunto de torres e um shopping. Destino de todas as grandes áreas abandonadas em São Paulo. Este Hospital chegou a ser administrado pelo Estado e depois o fundo de pensão do Banco do Brasil vendeu para um empreendedor imobiliário e logicamente o projeto é sempre o mesmo, mais um shopping e mais torres.

E o que fica para a cidade? 

A carcaça. 

Protegida pelo patrimônio histórico. 

Dois edifícios do complexo, um deles a capela.

Eu tive um sentimento dúbio, tristeza pela perda do meu berço, mas, a volta de seu uso me deu um pouco de alegria. A vida muda, a cidade também muda. Mas, o problema é o projeto, o programa. O empresariado não amplia sua visão.

Pode lá fazer suas torres, mas, crie espaços para a juventude, eu sempre vi ali um novo ponto cultural, ainda mais agora que os jovens transformaram a Paulista numa praia. 

Que tal um lugar onde se possa ouvir ou fazer música, estudar um texto de teatro, escrever um texto, ler um livro. Tomar um café, ir ao sapateiro, ou como me disse um aluno hoje, ir a uma pequena oficina, a um lugar da sinuca, do skate, da poesia, do artista plástico residente?

Uma miscelânea urbana, rica, cheia de vida, de encontros, de alegria. Não um lugar de consumo, não um lugar para ter, um lugar para ser. Eu iria lá onde nasci.



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